O ano de 2012 versa sobre a possibilidade de final
do mundo. O universo Maia nos remete ao imaginário de que após esse ano par,
não teremos mais os pares de nossa espécie sobre a superfície terrestre, nem
mesmo a Terra... Isso mexe com as pessoas. Mesmo que essa história não tenha
nada a ver com o dia do teatro, podemos
responsabilizá-la pela conspiração do universo em reunir as mais distintas
cabeças do teatro de São Leopoldo para celebrar o Dia Mundial do Teatro.
Históricos, políticos, acadêmicos, populares,
doutores, samaritanos, peregrinos, antigos, novos, remanescentes, resignados,
andarilhos, novatos, incipientes, estudantes, amadores, profissionais,
oficineiros, simpatizantes, técnicos, metódicos, resistentes... Todos e todas
por um acaso reunidos; reunidos ao acaso ou de caso marcado para se
reunir e modificar o cenário cultural da cidade. Incumbidos pelo cosmos, pela
Terra e pela necessidade artística e popular a montar um cenário de teatro na
cidade.
Há três décadas tínhamos uma geração que com um “CLIC”
(Centro Livre de Cultura) mexeu com a cidade, há duas décadas, seus
remanescentes resistiram pela cultura, há uma década, militantes da cultura
forjados nesse tempo e agregando novos discípulos enfrentaram a adversidade e
de cara limpa derrubaram um muro e construíram uma política capaz de com o
tempo implantar aparelhos institucionais para a cultura e transformar o
abandono do auditório em Teatro Municipal. Hoje a muito para fazer e muito por
fazer. Há que se cobrar investimentos na próprio Teatro Municipal, há que se cobrar
contratantes que insistem em adiar pagamentos, há que se fortalecer o
estudantes, o amador e o profissional do teatro... Mas há muito sendo feito, e
o teatro como instrumento de transformação social, artística, educacional,
entretenimento e política clama por celebração. É preciso lembrar o dia para
não esquecer o ano inteiro de trajetórias que emocionam e que modificam
vidas...
Há quem diga que datas comemorativas não deveriam
existir, que datas que marcam a Mulher, o Negro, a Síndrome de Down, a Aids, o
movimento gay não deveriam ser explicitados pois carregam mais o preconceito.
Pelo contrário, essas datas são necessárias para lembrar que é dever a luta e é
direito a igualdade, equidade e respeito às expressões, ao gênero, às
deficiências, às minorias e às ideologias. A democracia é delicada, é frágil,
deve ser defendida, e lembrada todos os dias para que fortaleça, assim como
marcar datas pelo direito ao direito de ir e vir, de atuar em todas as
instâncias e segmentos, de fazer arte e fazer teatro.
O teatro que já foi catequista, o teatro que já foi
imperial, o teatro que já
foi romântico, que já foi circense, que já foi de
vanguarda, que já foi de revista, que já foi de resistência, que já foi de
abertura, que esteve entrelaçado na história de todos os povos em todos os
tempos deve ser reverenciado. Não com riso e entretenimento, mas sim como a
ação que faz o ser descobrir-se humano, que faz deuses se compararem a
terrenos, que faz crianças tornarem-se adultos, que faz a sociedade ver-se no palco como ela e poder julgar-se fazendo-a transformar em
algo mais, melhor e maior. Capaz de ter a certeza de que 2012 não marca o fim, mas sim o começo
de uma nova caminhada, capaz de agregar, organizar, ampliar, reunir e
fortalecer todos e todas que fazem e lutam pelo teatro, pela arte e pela
cultura; bem da humanidade, inspirando a quem se aproxima e inspirados pelo círculo da cultura como a síntese de todas as artes, todas
as ciências e todas as religiões em uníssono na defesa da humanidade.